Primeira Parte
Durante algumas semanas vamos falar da história da Acupuntura. Neste primeiro texto, traremos alguns conceitos dos seus primórdios.
Não é fácil expor, em poucas palavras, a intenção profunda de uma obra como a Acupuntura. É plausível dizer que quase tudo o que se sabe sobre ela começa com lendas muito antigas. Fu Xi e Hwang Ti foram representantes das comunidades de tribos da sociedade primitiva Chinesa há cerca de 4.000 anos atrás. Muito do que conhecemos vem deste tempo, ou talvez de épocas mais remotas ainda. Para se ter uma pequena idéia de como o conhecimento se transmitia nos seus primórdios, há escritos do Imperador Amarelo (2700-2100 aec) preservados em cascos de tartaruga. Após este período novas reflexões foram formuladas e incorporadas à Tradição pelas dinastias Chia, Shang, Tsou, Chin, Han, Sung, Ming entre outras. Consideramos oportuno chamar todo este “capital da elaboração humana” de “Tradição” uma vez que o termo “Filosofia” está mais adequadamente relacionado com a produção intelectual específica da Civilização Helênica. Portanto tratamos neste artigo da Acupuntura segundo a Tradição Chinesa e não de Filosofia Tradicional Chinesa, como vemos amiúde em discursos, conversas e textos na área. Parece ser excesso de preciosismo, contudo é bom notar que nomear esta forma de pensamento de “Filosofia”, não deixa de confirmar a tendência que nós ocidentais temos em optar pelo sincrético e não pelo sintético, o que é muito compreensível. Não desqualificamos nem um nem outro modo de abordagem, mas de certo é bom definirmos nossos termos para manter a coerência quando nos expressamos, neste artigo, de uma ou de outra forma.
É preciso certa dose de abstração para entender o que é esta tradicional e ancestral arte Chinesa.
Se formos sincréticos o texto ficará mais agradável, por usarmos conceitos mais familiares. Estaremos “ocidentalizando” o “oriental”. Contudo esta abordagem perde muito da “essência” da tradição, e acrescenta uma dose de traição, em favor da inteligibilidade. Por outro lado se formos muito sintéticos, pode ser que o leitor ache tudo muito vago, ambíguo e sem sentido. Optamos por um texto temperado e balanceado.
Para melhor apreender as bases da Acupuntura é preciso contextualizá-la na visão de mundo de onde ela emerge e floresce. Este exercício certamente significa qualificar as concepções e o imaginário Taoísta, particularmente no que concerne a cosmologia e conseqüente valorização da idéia de “unidade”, tão cara ao conceito de “TAO”. Neste processo “unificante” percebemos (e aqui entra uma síntese) também uma “dualidade” implícita e as derivações que dela surgem como as essências do universo, as relações culturais, o valor que se dava ao corpo, saúde, sociedade e meio ambiente como um todo e em constante mutação.
Segundo a tradição, tudo começa quando o Caos primordial se desfaz. Uma grande força possibilita o desabrochar de duas polaridades, as energias Yin e Yang. Destes dois princípios elementares nasceram as “dez mil coisas”. Em uma passagem do Tao Te Ching, de Lao Tzsu, temos uma descrição do que seria o Tao “...algo que é misterioso, informe e existe antes de haver Céu e Terra. Silencioso, quieto e vazio, pleno em si mesmo, imutável, circulando eternamente através dos espaços e tempos, incansável. É a mãe da miríade de coisas do universo...”. Todas estas “coisas” expressam o sopro original das polaridades Yin e Yang: calor-frio, feminino-masculino, dentro-fora, superficial-profundo, alto-baixo, úmido-seco, forte-fraco, luz-escuridão, aberto-fechado, côncavo-convexo etc. Já deve ser de conhecimento de muitos o signo: Yin - Yang.
Proxima semana continuaremos com a segunda parte deste artigo.
Até lá!
Maurici Tadeu F Santos
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